Passei
um tempo de reclusão, me deu o famoso branco que todo escritor se apavora ao
imaginá-lo. Mas, ao contrário do que pensei que faria, não me desesperei,
procurei escrever em vão, acreditei ser o fim da linha ou algo assim. Eu soube
entender que isso também se tratava de uma fuga minha, de um tratamento criado
pelo meu inconsciente para amenizar e anestesiar minhas dores e amarguras.
Então, eu também fui aproveitando esse momento sem ansiedade por escrita. Eu
fui lendo, admirando textos e pensamentos de pessoas que gosto tanto,
assistindo filmes, conversando com amigos, fui vivendo o outro lado de mim, sem
me preocupar se a vontade de me despir voltaria novamente.
E,
foi assim, hoje pela madrugada, que ela voltou. Voltou para dizer como foi sua
experiência, voltou para me agradecer ao entender o quanto ela precisava desse
tempo. Voltou a fim de contar para vocês suas próprias conclusões.
Mais
uma vez eu vivi um momento de decepção, de dor, de amargura por me doar ao
outro sem contrapartida. Eu fui iludida e me deixei iludir sem medo. Questionei
minha maneira de viver o outro, de me dar ao outro, fui fundo na minha solidão.
Vivi aquele momento que a Alice descobre que o País das Maravilhas só existiu
na cabeça dela, o momento que a Bela Adormecida acorda e se depara com um
castelo sem príncipe, o momento que o Pinóquio descobriu ser ele a sua maior
mentira. Mas então, eu concluí ser mágico e um conto de fadas poder viver esses
personagens em mim.
Amar
é um dom que carrego. Amar o outro mesmo depois da decepção, me doar sem medo,
dar o melhor de mim para que as coisas aconteçam é o que de mais nobre tenho em
mim. Descobri que amar não é defeito. Defeituoso é quem não sabe receber o meu
amor, pois esse ser que não é capaz de aceitar tão nobre sentimento é porque
nunca o conheceu. E eu então tive dó, pena de quem nunca viveu e talvez não se
deixe viver um sonho tão bom assim.
Receber
um amor, se deixar levar sem medo do que possam imaginar, sem orgulho, sem
armaduras, com pés descalços e alma limpa é de uma coragem que poucos, nos
tempos de hoje, se permitem ter.
A
decisão de abandonar o barco, de deixar esse sentimento tão puro e tão
grandioso se findar é cruel. A linha que separa a consciência da batalha
findada para a culpa de não ter dado certo é tênue. É inevitável se questionar
quanto à culpa. Será que deveria ter me dado menos? Será que deveria ter sido
mais fria? Será que eu deveria ligar? Será que ele vai ligar? Será... será....
será??? São muitas as dúvidas que nos rondam até que a resposta vem, como uma
faca que atinge fundo o peito. Rasgando, triturando, tirando o fôlego: você fez
tudo que estava ao seu alcance fazer, menos que isso não seria você. Jogos de
sedução, dicas de como conquistar alguém não combinam com a sua identidade.
Você foi inteira, se deu inteira, fez tudo que estava ao seu alcance fazer, deu
o melhor de si. Mas, ao racionalizar que em comparação ao que se dava e ao que
se recebia, o saldo era inferior a zero, viu que era hora de deixar tudo para
trás. Não por ter perdido a luta, mas por tê-la vencido.
Porque
quem dá amor, confiança, respeito, carinho e admiração não perde em nada. Perde
aquele que não sabe receber esse presente sem preço e de valor absoluto. Porque quem ama se decepciona, chora, se
agride, se sente usada, passada pra trás, mas se reergue e tenta de novo.
Porque quando se conhece esse sentimento tem-se a noção que não se pode mais
viver sem ele. Mas quando ele não existe em um ser, quando alguém não consegue
amar, não há vida efêmera e amigos que consigam apartar e preencher esse vazio
constante no peito.
Assim
como meu valoroso Peter-Pan, eu renovo em mim a inocência que nunca morre, eu
me permito acreditar nos meus sonhos, acreditar nas pessoas novamente. Sem
medo, sem receios, sem jogos. Eu me permito viver o tempo de reclusão, de choro
e solidão, mas apenas para renovar as energias. Eu sei o quanto é necessário se
conhecer a dor para se valorizar a alegria. Mas deixar de amar, deixar de
acreditar em mim e no que sinto dentro de mim? Ah isso eu não suportaria. Hoje
eu conheço quem sou, conheço meu valor e sei que, ao permitirem, eu posso ser
companheira, amiga, cúmplice, confidente, eu posso segurar a onda forte que vem
e suspirar com a brisa leve da manhã. Eu
posso ser o travesseiro amigo da noite, o ombro solidário das tempestades como
posso fazer sorrir com palhaçadas e conversas amenas, porque eu simplesmente
enxergo pessoas como pessoas. Eu tenho esse dom.
Então,
meu amigo, não se martirize e nem se gabe pelo que me fez. Arrependimento nunca
fez parte do meu vocabulário. Eu vivo o que quero viver, faço o que sinto que
devo fazer. E agora? Bem... agora me dê licença. Eu vou ali ser feliz e não
volto!
Fotos retiradas do Google