quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

NÃO ESTAMOS TODOS EM ESTADO VEGETATIVO?

Li uma reportagem essa semana sobre uma mulher que está em coma há anos e respondeu a muitas perguntas pessoais em um novo exame. Os médicos pediram para que ela se imaginasse jogando tênis no sim ou caminhando em casa no não, ambos ativam partes diferentes do cérebro, e ela conseguiu responder a todas corretamente. Minha primeira reação foi me chocar, senti uma espécie de claustrofobia, me imaginando no lugar dessa mulher, presa em mim mesma pra sempre, em uma tentativa constante de gritar e o grito jamais sair. Nossa, morri de calor naquele momento, mas depois eu refleti...
Quantas vezes na verdade eu não estive mesmo nesse coma? Em quantos momentos não me senti presa a mim, dentro de mim, sem que ninguém conseguisse me ouvir ou perceber minhas respostas, meus estímulos? Em quantos momentos da minha vida eu não me senti sem vida, abandonada e em um desespero só meu de gritar, chorar, bater ou simplesmente descansar eternamente? Será que não nos preparamos de fato para vivermos nesse coma e não percebemos?
Em momentos desesperadores podemos estar cercados de gente que iremos nos sentir sozinhos e desamparados, sem chão, sem ar, sem lágrimas ou pensamentos coerentes e isso já não é estar em estado vegetativo? Quantas vezes não nos anulamos para dar preferência ao outro, não nos doamos sem falas para não decepcionar ao próximo, isso não é deixar de responder a estímulos? Ser marionetes na vida não é talvez mais cruel que estar em coma em um leito de hospital? No hospital ao menos somos a vítima do acaso, de um acidente, ficamos cercados de todos os cuidados, carinho familiar e compaixão, mas e na vida? Geralmente somos abandonados nos momentos de inércia e deixados de lado, esquecidos pela nossa ausência.
O coma interno pode ser tão traumático como o estado de coma hospitalar, dependendo do tamanho do trauma, do tamanho do estrago das nossas feridas, não nos recuperaremos nunca. Isolar-se, entrar na própria conchinha, se conhecer e conhecer seus limites, é saudável, é sublime, mas é preciso se lembrar do caminho de volta, se prender a algo que te faça viajar para o outro lado, mas ter vontade de voltar, porque nosso mundo interno pode se tornar um labirinto muito atraente a princípio, mas também pode ser muito cruel com o passar do tempo.
É bom quando nos conhecemos por dentro, entramos a fundo em nosso abismo, sem medo. Mas com certeza é melhor quando isso é só um leve sono e, logo, nos despertamos abraçados a alguém especial.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

RIO 40 GRAUS

O Rio de Janeiro é uma cidade que exala o sexo e o erotismo, seja nas pequenas peças de roupa dos cariocas, seja por seus corpos sarados, pele bronzeada ou mesmo pelas altas temperaturas que sempre marcam os termômetros da capital fluminense. Só sei que quando piso em solo carioca é impossível controlar a onda de calor que vem pelo corpo.
Não sei dizer se essa sexualidade aflorada é um reflexo do calor ou se na verdade a cidade se esquenta devido à alta libido das pessoas. É verdade também que o carioca como um “bom vivant” não se fixa em grandes preocupações e ambições de vida, para ele o trabalho é apenas o meio para se chegar ao prazer. Ele não trabalha pensando em grandes economias e definitivamente também não trabalha pelo simples prazer de trabalhar, como faz um paulista. O trabalho no Rio de Janeiro serve apenas para garantir o chope e o biscoito globo na praia, para dar sustentação às varias atrações noturnas que acontecem diariamente na cidade. O Rio de Janeiro, sem sombras de dúvidas, é uma cidade dos sonhos onde se encontra a diversão, o prazer e a descontração sempre acompanhados por um belo e desconcertante sorriso carioca.
Sou suspeita pra falar dessa cidade que me abraçou por tantos anos e dos seus moradores que sempre me seduzem com seus olhares despreocupados e cheios de malícias, com o gingado do corpo e o toque sempre ousado. Mas, se eu pudesse dar um conselho a todos seria: aprenda a viver como eles. Sem levar a vida tão a sério, sem se prender demais às picuinhas do cotidiano, um carioca se liberta das obrigações morais e se joga na vida como uma criança aproveita suas férias de verão.
Velhos rabugentos são substituídos por “jovens senhores da melhor idade” que fazem caminhadas no calçadão e dividem experiências de vida entre uma água de coco e uma boa ducha gelada nas areias de Copacabana, nos mostrando que é possível envelhecer com qualidade se um dia deixou-se viver intensamente.
O Rio pode até ser por um lado o purgatório da beleza e do caos, como disse a cantora Fernanda Abreu, mas que ele nos seduz e nos vicia ao ponto de nunca mais abandoná-lo, também não podemos negar. É, minha gente, não é só Minas Gerais que quem conhece não esquece jamais, mas entre a bela paisagem e o calor inexplicável que me sobe na nuca, o Rio de Janeiro para mim se tornou mais que um cartão postal, é o local onde me realizo e me deixo levar, onde esqueço o que não se pode fazer e me permito ousar na minha mais profunda vontade e fantasia. É por isso que deixo aqui, aos amigos cariocas, minha sincera homenagem!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

RESPEITO, CONSIDERAÇÃO E AMIZADE, NÃO É PEDIR MUITO?

Não sei se é por jogo, por medo ou porque as relações estão ficando cada vez mais superficiais, mas a falta de respeito e consideração com o próximo, principalmente quando se trata de uma relação a dois, tem se tornado cada vez mais constante.
Normalmente, procuro conhecer primeiro as pessoas antes de me relacionar com elas. Acho que tem a ver com meu signo sentimental ou talvez seja um resquício de minha criação interiorana, mas o que acontece é que eu sempre me envolvo antes mesmo do primeiro beijo. Não é uma questão apenas de romantismo ou paixão. Antes de qualquer coisa, eu gosto de colecionar amigos.
Porém, o que ocorre quase sempre é que, enquanto é de interesse da outra parte as coisas ficam ótimas, há um interesse mútuo no bem-estar do outro. Mas passou a satisfação momentânea daquele prazer, eu quase sempre me sinto literalmente guardada em uma gaveta. É, porque ninguém chega diretamente e diz aquilo que se passa ou aquilo que irá acontecer, porque prefere deixar no “stand by”, na dúvida se amanhã pode vir a se interessar por você novamente. E, é assim que passamos do estágio de pessoas para objetos.
É tão difícil assim? É muita exigência da minha parte quando peço um pouco de consideração, respeito e carinho amigo? Qual o drama de se dialogar, dizer ao outro aquilo que pensa e se deixar entregar a uma bela amizade? Atender a um telefonema, ser gentil, responder a uma mensagem, conversar por alguns minutos não é nenhum pedido de casamento, é só uma chance de conhecer o universo do outro, o indivíduo que, com toda sua história, pode nos acrescentar conhecimento e compaixão.
Perdemos o interesse nas pessoas numa busca incessante pelo prazer. Num mundo tão materialista estamos nos deixando materializar e tudo isso por um medo ridículo de demonstrar qualquer tipo de sentimento. Acho que vale lembrar que sentimento não é sinônimo de fraqueza e que ter carinho por aqueles que cativamos é mais nobre do que se pode imaginar.
Cansei de escutar que o erro está em mim, porque crio expectativas demais nos outros e sonho com o impossível. Não, não é mesmo. Não pode ser errado eu querer ser respeitada, querer manter vínculos e fazer parte da vida de alguém depois que aquela pessoa me conheceu no meu mais profundo íntimo. Não sou exigente ao pedir que sejam sinceros, que exteriorizem aquilo que os perturbam, que sejam apenas meus amigos.
Não sei como algumas pessoas conseguem entrar na vida de alguém e querer sair sem fazer barulho, como se isso fosse apagar o fato de um dia já terem entrado ali. Não temos um botão de liga e desliga e não é justo que tenhamos que esquecer uns aos outros e nos tornemos velhos desconhecidos ao nos cruzarmos nas ruas. Eu quero somar: somar amigos, somar carinho, somar atitude. Eu quero pessoas em quem eu possa confiar, que eu possa ligar de madrugada pra dizer que tive um pesadelo e estou com medo ou que tive um belo sonho e queria compartilhá-lo. Eu quero ser bem velhinha um dia e me lembrar com certa nostalgia de cada ser que passou por minha vida, porque de alguma maneira ele foi especial e me transformou em quem eu serei. Porque essa é a graça de se ter um relacionamento, esse é o verdadeiro sentido de viver: deixar-se conhecer por alguém.
Então, me faça apenas um favor? Não entre na minha vida se não pretende ficar, pois a indiferença é algo que me dói muito.