domingo, 28 de março de 2010

O QUE É UM AMIGO?

Amigos, assim como os amores, são difíceis da gente definir. Tem aqueles pra toda hora, que você liga a qualquer momento e te atende, que você aparece na casa dele sem nem bater na porta e que aparecem no seu trabalho, na sua academia, na igreja, em todo lugar, grudados como chiclete. Tem aqueles que você só encontra com hora marcada, que raramente coincidem horários, programas e vontades. Tem aqueles baladeiros, que você só consegue encontrar se for para uma festa ou qualquer diversão. Aqueles de papo cabeça, do momento mais difícil de lidar sozinhos, e tem aqueles que só funcionam no telefone...
Mas, o mais importante não é a categoria em que eles se encaixam, mas saber até onde podemos considerá-los amigos de verdade. Será que aquela pessoa que nem sempre podemos contar, que temos restrições de assuntos, que pensamos muito para decidirmos o que falar, que nem sempre está disponível pra conversar, pode ser considerada realmente amiga? Até onde vai a liberdade de uma amizade?
Uma vez, discutindo com uma amiga um pouco displicente quando o assunto é o outro até onde devemos relevar a falta de atenção e até onde devemos algumas obrigações aos amigos, ela me disse que a verdadeira amizade é aquela em que a pessoa é completamente livre da outra, é quando ela liga porque quer ligar e não porque é uma regra manter contato. Concordei em dado momento, mas depois, refletindo, acho que não concordo integralmente.
É justo que não temos que nos preocupar em manter formalidades com amigos, que podemos dar o cano às vezes e que eles entenderão. Mas acho que, como toda relação baseada no amor, nós devemos ter o cuidado de retribuir aquilo que recebemos, devemos prestar atenção se regamos nossa plantinha com cuidado para que ela continue bonita e fortalecida.
Por que é que quando um namorado deixa de escutar nossas lamentações em momentos difíceis, deixa de nos chamar pra sair, não tem o cuidado de nos convidar para seus programas o taxamos de cruel, mas quando se trata de um amigo, temos que relevar e entender que ele não tem obrigação de nada? Afinal, e aquela frase: tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas?
Acho que não somos grudados, não estamos na adolescência pra andar apenas com um grupo e podemos sim ter amigos para cada tipo de circunstância. Mas, como com todos aqueles que amamos, nós devemos a obrigação de preservar e respeitar. Quando se ama alguém não se pode presumir que a outra pessoa já sabe e pronto, já é demais o seu amor. Precisamos demonstrá-lo e dizê-lo a todo instante possível. Precisamos assegurar ao outro que somos parte dele e que ele é parte do que somos, porque assim como nossas incertezas nos deixam retraídos e confusos, com o outro acontece o mesmo. Precisamos nos dedicar mais ao outro e deixarmos de viver o nosso egoísmo, porque quando dói lá no fundo, não é sozinhos que queremos chorar...

sábado, 20 de março de 2010

O MUNDO GIRA

Toda vez que alguém nos faz um mal ou nos abandona ou simplesmente não nos inclui mais em seu mundo, escutamos dos amigos: não se preocupe, o mundo gira. Mas será que gira mesmo?
Será que quando uma pessoa nos abandona, nos joga pra escanteio, não nos quer mais dentro do seu circulo de amizade, ela será amaldiçoada a ter isso de volta? Será mesmo justo que quando uma pessoa resolve ser honesta com o outro e dizer que não sente mais o mesmo que antes, que atitudes, palavras ou mesmo o tempo mudaram seus sentimentos, ela tem que ser a vilã e pagar por isso no final? Ou isso não seria uma desculpa e apoio para os fracos?
Eu não quero acreditar que quando sofro é porque um dia fiz alguém sofrer, se me machucaram agora é porque ontem eu machuquei alguém, quero ser dona das minhas ações e até mesmo do meu sofrimento. Se alguém me fez chorar é porque naquele momento eu quis chorar, é porque naquele momento eu tinha que chorar e não porque a terra é redonda e o mundo gira, não acho que a minha existência seja tão simplista. Quero ser mais complexa que isto. Não é porque ontem, por imaturidade, crueldade ou até sinceridade fiz alguém sofrer que vou ter que pagar na mesma moeda.
Quando me fizeram chorar, sofrer ou me decepcionaram, nunca pedi para que aquela pessoa sentisse o mesmo que eu um dia, porque na verdade ela jamais poderia, o sentimento é só meu (sim, eu sou egoísta até nesse ponto). Não quero que uma pessoa que me fez um bem um dia, mas no outro, por qualquer que seja o motivo, não quis mais, pague por isso e se lembre de mim como o troféu consolação. Se for pra ficar ao meu lado, seja amor, amigo, parente, colega de trabalho ou qualquer outra coisa, que seja por mim e não por medo da vingança da bola.
Eu já fiz pessoas chorarem, já fiz pessoas sofrerem, mas não é por isso que eu choro, que eu sofro com outras pessoas. Cada um é cada um e deixa sua marca e sua história em nossas vidas. Se eu acreditar que chorei hoje com fulano porque ontem fiz ciclano chorar é porque não acredito em indivíduos, porque fulano não é parte de ciclano, são pessoas distintas, com histórias de vida distintas e que me marcaram de maneira distintas. Eu já disse que tenho mania de colecionar pessoas, mas o divertido desse álbum é exatamente que não podem existir figurinhas iguais. Então, se hoje eu chorei por alguém, que bom. É sinal que ainda posso me emocionar por alguém, que nenhuma crueldade ainda tenha abalado minha sensibilidade, mas eu não vou esperar que essa pessoa sofra pra eu ser feliz. Não mesmo. Ela que caminhe pro seu lado que eu tenho muito mais tempo pra pensar em como me reerguer do que esperar a vida derrubá-la.
Quando um ciclo termina é melhor gastar a energia que temos para começar o nosso novo ciclo do que dedicarmos a atrasar o ciclo alheio. O mundo pode até girar, mas não é pra se vingar por mim e sim pra que eu amadureça a cada nova volta.

terça-feira, 2 de março de 2010

EFEITO IÔ- IÔ

Todas as pessoas têm na verdade uma relação que vai e vem, uma pessoa que volta e meia reaparece e bagunça tudo que você levou tempos para reorganizar. Mas isso prova que somos todos um pouco sados-masoquistas ou que existem carmas que nos perseguem e rondam como almas penadas?
Não adianta fugir quando esse tipo de gente reaparece, deixe rolar, porque no final você se rende como em todas as outras vezes e a resistência inicial apenas te causará um desgaste de energia que poderia ter sido poupado para a hora do inevitável adeus. Temos que aceitar que certas pessoas são perfeitas pra gente por certo prazo de tempo e que depois, como as baleias, elas precisam seguir um rumo e retornar apenas quando é chegado o momento do novo acasalamento. Depois que percebemos e aceitamos que esse tipo de encontro também se trata de um relacionamento e que cada um tem seu papel diferencial em nossas vidas, sem cobrarmos rótulos ou funções específicas, as coisas tendem a fluir melhor.
Precisamos aprender a respeita o espaço do outro, sem cobrarmos o retorno daquilo que doamos, porque ninguém é aquilo que esperávamos que fosse e não existe a materialização perfeita da nossa imaginação. Se a sua relação é baseada no respeito e carinho não deixe de vivê-la porque ela não tem um nome e um momento fixo, as festas itinerantes costumam ser mesmo as mais inesquecíveis. Embarque na fantasia enquanto ela existir e, no intervalo em que ela precisa partir, deixe-se levar para outras festas, outros eventos, porque se aquela foi mesmo especial e deu toda aquela repercussão esperada, ela volta e, caso um dia ela decida não aparecer, bem, você terá aproveitado tudo que ela pode oferecer.
Eu tenho pessoas itinerantes que eu custei e ainda custo para aceitá-las dessa maneira, mas confesso que se elas não fossem assim, talvez, não seriam tão especiais, pois não teriam me rendido tantas histórias e me colocado a questionar até onde o previsível não pode ser desgastante. Se aquele amor arrebatador tivesse me pedido em casamento, será que a paixão e o fogo que marcam minhas lembranças não teriam sido esmagados por sua barriga de cerveja ou arrotos no sofá? Será que ele seria tão excitante se tivesse me largado em casa num sábado à noite, em pleno aniversário de casamento, para uma partidinha de futebol com os amigos? A rotina e o rótulo poderiam ter apagado o que agora se torna combustível para as minhas mais profundas emoções.
Já que não há como sabermos se temos tendências sado-masoquista ou se somos perseguidos por carmas de outras vidas, é melhor aceitar apenas essa condição que nos é imposta e seguir adiante, sem pensar em dar nomes e regras a tudo aquilo que vivenciamos, porque no final, será mesmo só você com você mesmo sempre...