quarta-feira, 15 de agosto de 2012

UM BRINDE À HIPOCRISIA DE SER FELIZ SOZINHO


          Hoje fui surpreendida com a felicidade dos amigos nas redes sociais e descobri: é o Dia dos Solteiros. Um monte de animações, frases, textos sobre a importância de estar sozinho, de ser feliz consigo mesmo. A comparação com os que andam em pares como se a solidão fosse prova de maior inteligência e exigência. “Não é qualquer um que me leva, depois que aprendi a ser feliz sozinha. Fiquei mais exigente comigo mesma”, foi uma das inúmeras frases que li. Seria muito produtiva, se não fosse hipócrita.
            A verdade é que todo mundo, ou pelo menos a imensa maioria, gostaria de ter alguém ao lado, um apoio fiel para conversar, um companheiro leal para desabafar. O Dia dos Solteiros me soa mais como a vingança ao Dia dos Namorados do que um alívio real por ser solto no mundo. É como se a massa não pensante que nos tornamos gritasse: Olha só, vocês esfregaram o amor melado de vocês na nossa cara há dois meses, não foi? Nos fizeram repensar nossas escolhas perante o comportamento contemporâneo? Então agora invejem nosso dia. Nós podemos sair de segunda a segunda com nossos amigos. Podemos encher a cara e cair no chão, pois nossos amigos vão rir e não dar esporro. Podemos comer geral por ai. Cada dia uma e não decorar as posições que faremos mais tarde na cama. Olha como somos mais felizes! Sério mesmo?
            Por uns instantes todo casal pensa em ser solteiro. Realmente a não preocupação com o outro traz uma certa nostalgia e ar de liberdade. Mas quando o casal realmente se encontrou, quando se trata de uma relação verdadeira, essa falta de liberdade a todo tempo é suprida pelo desejo de estar realmente junto. Um casal que se entende, que se completa, sabe respeitar a individualidade do parceiro e comumente um deles pode ser encontrado avulso, na esquina, tomando uma cervejinha com os amigos pra colocar o assunto em dia. Quando se é um casal de verdade, um realmente pensa no outro, no bem-estar, na satisfação, mas com prazer. Faz planos em conjunto, compartilha seus problemas e suas vitórias, mas por ter certeza que ali reside o seu melhor amigo(a). Nada de obrigação, cumplicidade apenas. E ele faz isso porque sabe que não é obrigado, que pode bater a porta e sair quando quiser, apenas não sente essa vontade. Quando se encontra realmente alguém que te acrescenta, os amigos perdidos se tornam dignos de pena.
            É obvio que jogar a sua felicidade em cima do outro é o caminho mais curto para a decepção. É possível sim se satisfazer consigo mesmo. E deve ser assim. Devemos nos orgulhar dos nossos feitos, de quem nos tornamos, correr atrás dos nossos objetivos, cuidar dos nossos entes e amigos. Plantar as nossas sementinhas. Mas existe uma grande diferença entre esse amadurecimento interno real e a ficção lunática de putaria descomedida que tanto nos iludimos nos tempos de hoje.
Ser você mesmo, se conhecer, se encontrar realmente são aprendizados adquiridos com o tempo e com um pouco de solidão, mas quem sai por ai se leiloando como mercadoria usada não está usando esse tempo pra se conhecer como acha não. Sair por ai tendo relacionamentos superficiais também não é a chave para a felicidade. Quando os escritores e filósofos dizem que a felicidade está dentro da gente é exatamente no conhecimento interno, no aprimoramento pessoal a que eles estão se referindo e não ao “não sou de ninguém, eu sou de todo mundo”, não confunda minhoca com cobra. Pensando assim, você, além de encalhado(a), é um tremendo imbecil e nada de grandioso existe em você para trazer-lhe a tão sonhada felicidade.
Ser solteiro, casado, namorado, divorciado, viúvo não é status, não é sinônimo de felicidade, é condição. Não é um estado permanente, tudo muda. Tudo caminha, tudo evolui. Hoje se está casado, amanhã divorciado. Fazer disso uma bandeira é uma tremenda ilusão. A verdadeira bandeira que deveríamos levantar é a do veto ao superficial, ao banal. Pode-se ser solteiro hoje, namorado, casado, mas deve-se ser por inteiro, aproveitar a estadia desse status, porque ele também passa!
Não posso ser hipócrita comigo e dizer que não gostaria de encontrar alguém bacana, legal, uma relação realmente honesta e de cumplicidade. É tudo o que mais desejo! Mas também, se for pra ser só um status, pra manter na página de facebook... Ai, meu amigo, prefiro mesmo manter a banca de solteira, porque comigo mesmo não tem falsidade, não tem disse me disse, não tem arrependimento e nem falsas surpresas. Eu quero pra mim o que for pra ser real, pra ser inteiro, pra ser intenso. Meias verdades não me interessam. O café meio quente, pra mim, é frio!


Fotos retiradas do Google/ Vídeo retirado do youtube