Quando
fiz 30 anos, eu tomei uma decisão que já vinha me perturbando por dentro há
algum tempo: “Quero ser coerente comigo mesma.” E dali em diante tem sido um
caminho difícil, penoso, dolorido, mas de muito crescimento, amadurecimento e
conhecimento pessoal.
Aos
20 eu era absurdamente impulsiva, explosiva. A sinceridade sempre foi presente,
meu melhor defeito e minha maior qualidade, mas eu a cuspia ao mundo, queria
retorno, queria espelho. Queria que as pessoas correspondessem exatamente ao
que eu oferecia e, quando não acontecia, soltava fogo como um vulcão em
erupção. Mas eu mesma quem absorvia as larvas do meu próprio vulcão, sem nem ao
menos me dar conta.
Eu
gritava, batia, esbravejava e sofria. Era somente eu comigo mesma exigindo do
outro algo que não era dele. E num processo de profunda interiorização enfim
descobri: eu não brigava com eles, eu brigava sempre comigo. Seja o que for que
me façam, eu permito, eu abro aquele espaço. Então pronto. Não reclama. Ficou
bem mais simples assim. Mas bem mais dolorido. Não ter a quem culpar, onde foi
parar minha adolescência? Cadê minha mãe? Freud, você sempre me disse que a
culpa é dos pais, não?
Não,
o padre já me dizia em ato de confissão, eu que não queria ouvir. É minha
culpa, minha tão grande culpa. Então, se sou culpada, eu que conserte meus
próprios erros. Como? Vou explicar.
É
óbvio que o outro como indivíduo tem suas escolhas e age de acordo com seus
preceitos e sua índole, não sou o centro do universo. Mas ele faz o que quer,
receberá o que emitir. Eu não tenho poder de mudar isso nele, tenho em mim.
Então... quando fazem comigo algo que me fere, quando me fazem promessas não
cumpridas, quando me enganam, quando riem e usam dos meus sentimentos, eu
recolho o que pertence a mim e me recolho também. Não adianta brigar, é preciso
agir. Em cima do que me fazem, eu decido como agirei no futuro, mas com aquela
pessoa. Não vou descontar em Paulo o que me fez Pedro. Experiências passadas
engrandecem a mim, mas não devem ser parâmetro para o tratamento com o outro,
com o novo. Cada um tem o direito de construir uma história diferente em mim,
eu dou o espaço. Se não corresponde aos meus anseios, sigo meu caminho. Respiro
fundo, faço minha oração e vou tentando sempre encontrar a minha paz.
A
bagagem que carrego já é pesada por si só, não posso carregar a do outro
comigo. Então... eu não brigo, não esbravejo, não cuspo mais. Mas também não
esqueço. Não sou boba. Eu mudo minha vida agora com ações, não com palavras.
Justo eu que vivo das palavras!
Eu
vou ser pra você aquilo que você quiser ser pra mim. Mas não me peça pra ficar
ao seu lado quando também não estiver disposto a me acompanhar. Não use
palavras levianamente, não tente entrar no meu coração, ele é nobre demais para
eu oferecê-lo no feirão. Um conselho que minha mãe sempre me deu, desde nova. “Minha
filha, tenha cuidado, o coração da gente é terra que ninguém pisa”. Então eu o
preservo ao máximo que consigo.
Se
ele sai ferido às vezes? É óbvio que sim! Mas rapidamente eu o reparo com um
acolhimento, com um carinho, eu peço ajuda aos meus grandes enfermeiros e
amigos. Trato do meu coração hoje como meu maior tesouro. E se tem espaço pra
você nele? Bem... isso você pergunta a você mesmo: você tem espaço pra mim ai
no seu? Porque se for pra me fazer sofrer, meu amor, eu prefiro sofrer em
Paris...
Fotos retiradas do Google / Vídeo do youtube!