Palavras
de despedida, o discurso do relacionamento que se finda, geralmente é muito
triste. Mas a tristeza que bateu em mim não foi por mim, foi por ver que o que
eu sentia era valioso demais, mas que sua pobreza de espírito não permitia
descobrir. Chorei por você não ter noção da dimensão do amar, da gratidão de
olhar para o outro e enxergar o espelho de você. Como deve ser triste ser você.
Quanta compaixão senti naquele último adeus.
Prepotente
de si, você se julgou melhor num discurso sincero de desconhecimento do amar.
Disse nas duras palavras, com uma leveza paralisante, que não sentia amor nem
pela própria mãe. Ninguém seria especial pra você. Não era um defeito meu, mas
seu. Sim... eu sempre soube que dei tudo de mim e que, se falhamos, a maior
parte não foi por minha culpa. Mas a frieza e a impossibilidade de sentir algo
que vem de você perfurou fundo meu peito. Fiquei sem ar após desligar o
telefone. Chorei como uma criança que roubam o doce de sua boca, mas me calei
nos pensamentos. Me deixei absorver tudo que via por dentro.
“Você
não pode querer ser especial. Não existe ninguém especial pra mim. Eu não
suporto minha própria mãe. Gosto de ser sozinho. Abrir a janela de manhã e
decidir sem pensar em ninguém o que vou fazer naquele dia. Mas você é uma boa
companheira, parceira, posso contar com você. Gosto disso. Mas não passa disso.”
Com essas palavras você quis mesmo me convencer a ficar, mas foram a cravada
final para todo encantamento passar.
A
princípio seu mundo pode parecer fascinante. Não sentir nada por ninguém.
Brincar com pessoas como se fossem peças de um jogo e depois descartar. Seguir
sempre adiante sem olhar pra trás. Mas se vive sem sentir? Ou se sente apenas
que vive e se torna um espectador de si mesmo? Eu já chorei deitada no chão
frio do quarto, em posição fetal, por não conseguir ter forças pra me levantar.
Já me atirei na porta de sua casa em soluços querendo uma última chance, já
quis tirar o coração do peito pra ver se apertava menos. Sofri, sofri a dor
humilhante do amor, mas, nessa mesma dor, senti a poesia do que é viver. Já me
derreti ao ver um sorriso. Abracei o mundo ao te ter nos braços e você nunca
saberá o que é viver isso. Não... eu não troco minha sensibilidade quase
suicida pela sua frieza.
Na
minha sensibilidade, na minha subjetividade, me encontro, me perco, apareço e
desapareço de mim. Sou inconstante, complexa, impulsiva. Sou VIVA! Sou
protagonista da minha própria história. Me atiro sem paraquedas em tudo que
mexe com meus instintos e sentidos. Opto sempre pelo caminho com mais coração.
Se comparássemos nossos estilos, eu seria o filme, você a plateia.
Você
se senta na poltrona confortável, pega sua pipoca, se delicia com o
refrigerante, os doces, a companhia ao lado, assiste a tudo paralisado e vai
embora. Enquanto eu estou ali na sua frente, me arriscando em brigas com
vilões, sentindo as dores dos obstáculos a minha frente, conhecendo caras
errados, brindando a vida com amigos sinceros, sofrendo desilusões e me
aventurando num enredo desconhecido. Às vezes saio muito ferida, quase morro.
Mas, no final, estou ali de pé ou então recolhendo meus cacos. Mas eu sou a
ação, você apenas assiste sem se mexer a nada e vai embora.
Você
pode ir pra casa com sua companhia, discursar impessoalmente sobre o enredo do
filme, dar opiniões de observador. Agora eu? Ah... eu saio com toda a
bilheteria do tempo que você somente desperdiçou!
Fotos retiradas do Google