sábado, 12 de dezembro de 2015

ERA UMA VEZ UMA GRAVIDEZ

       E se uma princesa não terminasse seu conto dizendo “felizes para sempre” e engravidasse do príncipe? Como seria? Mágico, sublime, apenas um amor incondicional, uma sensação de plenitude. Certamente é o que todas pensam de quando forem engravidar. Mas não, não existe conto de fadas. Do momento do positivo ao parto temos medo, ansiedade, dor, desconforto, mudança brusca na forma do corpo e vários efeitos colaterais psíquicos que não são contados pelas nossas mães ou amigas. Parece que existe um tabu e todas as grávidas precisam ser felizes e realizadas ou serão julgadas e condenadas.

            Mas perai quem disse que ainda assim não somos julgadas? Sim... a todo instante, a todo momento, a qualquer suspiro. Se você é daquelas que enjoa, vomita, sem vida pela manhã, sente sono de não conseguir se controlar o dia todo, vai ser taxada de fresca, morta, vão dizer que é drama porque gravidez não é doença. Você está se fazendo. Não pode ser tanto assim. Ai que drama, você só pode estar curtindo isso.
Mas se você não sente absolutamente nada e passa pelo primeiro trimestre ilesa, é mentirosa ou uma coitada nem vai poder “curtir” a gravidez na plenitude, por que, né? Bom é sentir tudo. Aham... ai você escuta das não-grávidas: eu quero sentir tudo e tenho certeza que não vou parar minha vida pra isso, vou ser super ativa. Quando a frase vem de uma ingenuidade meramente ignorante, você até releva. Já estive nesse lugar, é muito fácil fantasiar ou teorizar. Mas quando vem de alguém que já passou por isso? Um simples: ah, eu não me rendi assim não, você tem que reagir. Cheio de rancor, cheio de revanchismo. Definitivamente as mulheres precisam ser mais tolerantes com elas mesmas. É preciso ter mais compaixão do que somos e pelo que passamos. Precisamos de sororidade real.
Mas não fique constrangida ou decepcionada aqui, acredite em mim, piora depois do primeiro trimestre. A competição existe até entre as não grávidas de quando teoricamente engravidarem. As grávidas então... comparam tamanho de barriga, quanto engordaram, manchas, estrias, celulites e peitos. Ih, coitada, seu peito vai ficar caído hein?! Ah, mas ai de você se sucumbir ao bullying e entristecer ou verbalizar o medo de essas mudanças serem permanentes. Meu Deus, quanta insensibilidade, como você é fútil. Preocupada com o corpo com um bebê que você já tem que amar mais que tudo dentro da sua barriga? Sim, aquele parasitinha que começa a crescer demais e pressionar seu diafragma, começa a apertar todos os seus órgãos, comer você por dentro como um vampirinho, que você nunca viu a forma, você precisa amá-lo com toda sua força ou será seriamente encarada por todos como sem coração, fria, doente ou até psicopata. Como se o amor não fosse construído aos poucos e essa não fosse a maior magia do verdadeiro amor. A descoberta do outro a cada dia, um novo modo de admirar. Não, tá maluca? Filho é amor quando se descobre. Não ouse dizer que não ficou feliz quando deu positivo. Vai passar pra criança isso e trará traumas para toda vida. Uma pobre vítima do seu egoísmo já ali. O verdadeiro condenado está dentro de você e quem condenou? Sua frieza e falta de amor. Você não é mais individuo, é propriedade pública do julgamento alheio.

Você entra para grupos de mães com vontade de se identificar, de ser abraçada, entendida, aceita. Recebe várias criticas quanto às suas decisões. Parto normal? Você é maluca, muita dor. Cesárea? Você sabia que seu corpo sabe parir e foi feito pra isso? Parto natural? Ai você é bicho? Índio? Parto por plano? Ah... você quer ser enganada, sofrer violência obstétrica? Não diga que não avisei. Amamentar com bico de silicone? Leite Artificial? Chupeta? Meu Deus, como você é péssima mãe. Como Deus te escolheu para gerar um ser tão puro? Mas calma, você dá conta. Ai você recorre às suas amigas, tudo bem, elas não têm filhos, mas você não deve ter mudado tanto assim.
O que? Quem são essas pessoas cruéis? Você não consegue acompanhar mais a rotina de acontecimentos delas e elas simplesmente param de contar as coisas pra você. Ah, você tá chata, só fala dessa barriga mesmo, dos gases, das dores, do incomodo pra andar, do berço que ainda não montou. Você nem se esforça mais pra ir a um happy hour ou ficar duas horinhas apenas sentada naquela poltrona desconfortável do cinema. Tudo pra você são esses hormônios, bela desculpa! Não é desculpa pra tudo não, tá?!
Ai você se vê sozinha, ainda não mãe e nunca mais sem ser mãe. Não tem muito espaço pra você no mundo antigo e o novo ainda não se abriu por completo. Existe uma filha, uma amiga, uma namorada, uma jovem que não quer morrer. Mas as pessoas que cuidavam dela já não querem e não aceitam mais, ela precisa ir para a nova mãe assumir. Tudo está mexido, tudo está confuso, mas pela primeira vez existe uma força e um poder de decisão dentro de você que julgamento nenhum enfraquece. Sim, está nascendo uma mãe e a vida do seu filho ou filha dependerá de você e nada do que disserem, palpitarem, julgarem, maldizerem mudará essa força, essa decisão, esse poder. Nasce um bebê, nasce uma mãe. A melhor mãe que seu filho ou filha precisa. Mas isso fica pra outro post. Por agora... esperemos o nosso momento e sejamos mais tolerantes com nossas grávidas cheias de hormônios, dúvidas, medos, lutos e receios. Mas também repletas de força e idealismo. Amemos e abracemos mais nossas barrigudinhas. O seu julgamento é o que ela menos precisa. Uma dica: basta um abraço e aquele chocolate!



 Fotos retiradas do Google

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